sábado, 5 de novembro de 2016

GESTALT OCUPACIONAL


A articulação dinâmica entre os tipos de práxis delineia as formas ocupacionais (gestalt ocupacional). Uma forma ocupacional pode ser definida como o conjunto de atos que compõem e configuram uma dada atividade. De outro modo, trata-se de um conjunto de atos que permitem uma fisionomia à atividade; meio pelo qual ela é reconhecível. Por exemplo, um dado conjunto de atos organizados pode tornar a atividade reconhecível como jogo, como interação interpessoal ou atividade doméstica. Uma atividade reconhecível é um algo nomeável e, no caso do exemplo ofertado, pode ser futebol, namoro ou cozinhar respectivamente.

Todavia, esses atos se organizam, se processam em razão de um propósito, uma vez que o propósito exerce, exatamente, esse papel de articular, de modo dinâmico, os atos para um determinado resultado. Ele agencia os vários atos necessários para o seu alcance. O propósito pode ser mais ou menos consciente conforme o grau de automatização dos esquemas motores, cognitivos e afetivos necessários para alcança-lo. De qualquer forma, a perda do propósito e, via de consequência, o esvaecimento da intencionalidade faz a atividade perder a sua forma ocupacional e, neste caso, trata-se de mera atividade automática e quase que reflexa, ou uma atividade desorganizada, fragmentada que deixa de ser reconhecível e nomeável. Nessa perspectiva, os atos não dialogam mais com o resultado; há somente um processo (organizado ou desorganizado), mas sem finalidade.

Assim sendo, a forma ocupacional é o meio pelo qual se pretende alcançar um propósito. É a escolha de uma estratégia ocupacional em busca de algo empenhado, colocado em perspectiva, o propósito - “Estou empenhado em fazer e empenhado em alcançar o objetivo”. Em síntese o empenho é o propósito, o motivo (o movente) e, por essa razão, é também o resultado, a consequência visada em perspectiva, portanto, a forma ocupacional é projetual em processo e resultado.

O desempenho, ao contrário, é situacional, pois trata-se da execução fática dos meios projetados na direção do resultado. Dessa forma, trata-se da vivência do processo e o confronto com o resultado na situação real. O desempenho pode ser mais ou menos satisfatório, mas é a resultante de algo projetado (empenhado), que foi des-empenhado, colhido da situação real de vida.


           A forma ocupacional e o desempenho ocupacional, portanto, são faces da mesma moeda. O desempenho ocupacional não pode existir sem as formas ocupacionais, uma vez que elas são a razão de fundo do desempenho, representam o motivo, o propósito de agir. Por outro lado, o projeto perde o sentido se não for para o alcance de um objetivo.

          As práxis espontâneas e a reiterativa, enquanto processo, são situacionais, isto é, elas estão diretamente ligadas ao processo de desempenho (o alcance do propósito); a situação real. Por outro lado, as práxis criativa e reflexiva são a substância das formas ocupacionais, das projeções (projetos) ocupacionais. No primeiro caso temos uma maior consciência prática e no segundo uma maior consciência da práxis.



Mario Battisti

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Descrição do software DESB - aplicativo da CIF - Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde


Descrição do software DESB







O software facilita a utilização e incorporação de ICF (Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde;
O software é baseado na web;
O software possibilita a inclusão de muitos pacientes e seus respectivos relatórios no banco de dados;
O software utiliza o código postal como instrumento de georreferenciamento de dados;
O software possibilita vários métodos de utilização, isto é: a escolha de “um a um” de códigos, a escolha a partir de coresets, a escolha a partir de formulário (protocolos da própria instituição) e a importação de arquivos pré-existentes no banco de dados.
O software permite o acesso de vários usuários (equipe multidisciplinar) para o mesmo paciente.
O software permite que os diferentes profissionais qualifiquem e descrevam a funcionalidade do mesmo paciente e participem na produção de um único relatório de funcionalidade.
O software permite que profissionais de diferentes equipes e pontos de atenção da rede de cuidados possam compartilhar informações e participar na produção e qualificação da descrição da funcionalidade do paciente;







O software permite que se aplique o CIF nas três modalidades ou convenções preconizadas pela OMS (Modalidades para Componentes de Fatores Ambientais Codificação - Anexo 2 da CIF);

- " Os fatores ambientais podem ser codificados em relação a cada componente ou sem relação com cada componente. A primeira é preferível já que identifica mais claramente o impacto e a atribuição" OMS

O software permite a conversão de uma convenção para outra, isto é, de uma modalidade ou regra de aplicação para outra. Portanto, permite verificar o impacto dos fatores ambientais sobre as deficiências, limitações de capacidade e restrições de desempenho.
O software permite que você aplique os componentes de "d" domínios ex.: mobilidade, comunicação, autocuidado com sobreposição, sobreposição parcial e sem sobreposição;

“Trata-se de possibilitar o estudo comparativo do efeito dos fatores ambientais entre as limitações de capacidade e as restrições de desempenho”


O software permite fazer um prognóstico de melhora ou piora da funcionalidade da pessoa;
O software analisa o índice de funcionalidade e incapacidade;
O software produz relatórios descritivos, analíticos e gráficos de funcionalidade;









O software possibilita a formulação de um relatório de Plano de Tratamento Singular.

Possibilita trabalhar com os instrumentos de avaliação da instituição e a sua conversão automática para o relatório CIF
O software salva todos os relatórios de paciente (ordem cronológica);
Você pode importar qualquer arquivo de paciente (salvo por ordem cronológica) e usá-los novamente.

O software armazena os dados de todas as codificações de funcionalidade do paciente. É também um repositório das componentes essenciais da funcionalidade das pessoas.
O software permite associação com outras classificações (ex.ISO 9999);
Facilita a manipulação da CIF;
Facilita a aprendizagem da aplicação da CIF. Por isso, é também uma ferramenta de treinamento.

Garante a utilização adequada (correta) da CIF; A certeza na aplicação da CIF; consistência das informações.

Garante um banco de dados capaz de gerar algoritmos para assistência;



terça-feira, 21 de junho de 2016

domingo, 22 de maio de 2016

Competências e 54 anos; escrever e conservá-las


epistámenos. Assim se chama o homem enquanto competente e hábil (competência no sentido de appartenance). A filosofia é epistémetis de uma espécie de competência, theoretiké, que é capaz de theorein, quer dizer, olhar para algo e envolver e fixar com o olhar aquilo que perscruta.  (Heidegger O que é isto Filosofia?  pg. 24, 2006)

De que competências se está a falar quando se define o campo de estudo e atuação do terapeuta ocupacional? Para que tais competências?

Em resposta à primeira pergunta, endereço as seguintes assertivas: as competências do terapeuta ocupacional emergem, originariamente, das competências desnaturadas do cliente, ou melhor, da opacidade própria do sofrimento ocupacional. Essa opacidade, em outras palavras, é a nebulosidade das competências do cliente para desempenhar os seus compromissos ocupacionais; dificuldade que estabelece dúvida. De outro modo, a aparição do ser é cercada de dúvida com relação à sua competência ocupacional na lida com o mundo das coisas e aqui não se está a falar tão somente do entorno, senão do mundo das coisas nele (realidade). O sofrimento tem aparição porque as competências necessárias não se desvelam, não se fazem comportamento diante das solicitudes e das preocupações que as convocam a desempenhar o empenhado; a impossibilidade com o compromisso ocupacional. A dúvida que se instala é: há competências para colocar em curso o compromisso assumido? A ausência de resposta, o silêncio duradouro em face do questionamento é a origem do sofrimento ocupacional.

O autodesenvolvimento próprio do processo de autocuidado, transformação do entorno e do mundo em si (realidade), solicita, para sua ocorrência, deixar de estar envolto (envolvido) nos modos já conhecidos para, então, se envolver em um modo modificado de ser. Ocorre que para que haja desenvolvimento, o pressuposto é um prévio envolvimento com o que já lhe é próprio. No caso do sofrimento ocupacional, a dúvida se assenta, exatamente, na “perda” dessa propriedade, uma vez que essa propriedade foi desnaturada; deixou de ser parte da natureza ocupacional do corpo ou, em outras palavras, ele foi desapropriado dos esquemas corporais: cognitivos, psicomotores, psicoafetivos, psicossociais etc. Este fenômeno decorre de fatores inerentes ao corpo, pela desindexação de fatores ambientais que facilitam tais esquemas, pela indexação de fatores ambientais que impedem o funcionamento pleno de tais esquemas ou  pela conjuntura dessas circunstâncias.

Em síntese, a competência do terapeuta ocupacional é uma projeção da competência desnaturada daquele que lhe endereça o sofrimento ocupacional.

À pergunta, o que perscruta o terapeuta ocupacional? O que ele sonda? Proponho as seguintes assertivas: ele analisa os aspectos que compõem ou compunham o desempenho ótimo da pessoa para o cumprimento de seus compromissos ocupacionais, de suas atividades propositais na situação real de vida. A referida sondagem, em parte, é realizada em ambiente simulado, ambiente clínico, afastado, como não poderia ser diferente, da situação real de vida. Contudo, parte da sondagem se dá pela declaração daquele que está sob seu cuidado. De outro modo, ela é o resultado da narrativa do cliente, o qual desvela o real desempenho que ele obtinha e obtém no curso do cumprimento de seus compromissos ocupacionais. O terapeuta ocupacional analisa e compara esses momentos (instantes).

Ele sonda as competências próprias dos esquemas corporais: psicomotores, neuromusculoesqueléticos,  psicoafetivos, psicossociais, senso-perceptivos, etc necessários, em hipótese, para realização de uma dada atividade ou necessários à participação. Ele sonda como se dá a interação de tais esquemas com o mundo ao entorno (fatores ambientais) e o mundo no ser (sua realidade). O impacto desses na vida ativa e participativa na vida de pessoas e no caso concreto. Há uma comparação do caso hipotético, caso paradigma e o caso concreto (a pessoa sob seu cuidado).

Daí que o cliente busca naquele que estuda, de forma especial e acurada (no terapeuta ocupacional), o excedente cognitivo para fazer retornar ao seu domínio, à sua posse, aquilo que lhe é próprio, mas que restou perdido pelas razões anteriormente expostas: decadência natural da relação do corpo com o ambiente ou por ação preponderante de um desses dois componentes, isto é, quando há uma preponderância do corpo “ofendendo” a relação natural de ambos os componentes ou uma “ofensa” do ambiente à referida relação. Portanto, por certo, há uma quebra do pacto natural entre o ser e o mundo que o cerca e o mundo nele; o ser-no-mundo em desequilíbrio, o corpo ocupacional em desequilíbrio.

Donde se conclui, dentro de uma visão fenomenológica, que a competência originária do terapeuta ocupacional vem antes da construção científica ou legal, ela se assenta, originalmente, no já referido sofrimento ocupacional, na aparição fenomênica da queda da competência do cliente. De outro modo, a competência do terapeuta ocupacional é a projeção da competência desnaturada daquele que lhe endereça o sofrimento ocupacional.



Mario Battisti

Continua